terça-feira

Motelíssimo

peguei os últimos centavos que tilintavam na bolsa vinho dela e joguei-me às ruas. sentia meu íntimo, por completo, tomado por tamanho envolvimento que já não me cabiam nas cuecas xadrez. todas as suas pérolas. o esmalte de puta pobre mesmo, arrancado durante um banho em que se preparava pra tomada ser, por completo, por alguém que fornecesse àquela garota um pouco de amor cafajeste. cor de céu escuro, limpo de estrelas mas sujo de alma. azul-escuro. e o sexo, vermelho-vinho por si só tal qual a bolsa que guardava todos os suprimentos daquela mulher. limpei os últimos resquícios de batom que ainda me habitavam enquanto pisava fundo na calçada e sentia os pingos de chuva daquela madrugada de quinta. relembrei cada toque mulheril em minha carne e em meu corpo. relembrei, ah, e juntei todos os momentos em que aquele ser vivo, herdeira de eva em osso, pele e veneno, fizera de nós, vinho. esvaídos pela hidromassagem e envelhecidos pelo amor pago. foi quando subi as escadas, contra o vento, deixando o tilintar dos últimos centavos no chão e as cascas de unha azul enfeitando o ralo, deitando na cama, rápido, e roubando algo muito mais valioso do que a sua dignidade.

4 comentários:

  1. isso é quase uma daquelas cabines de filmes pronô que seila se ainda existem

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  2. por Deus, o que seria mais valioso que a dignidade de alguém???????? (mas pelo visto Ela não tinha muita, então não seria muito dificil roubar-lhe algo mais valiso que isso ne.... hahahaha)

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  3. Mas isso aqui é um peep show de letras!coquetel molotov de paixões.
    Viciei!

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